19/02/2010

Ceciliana

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

"Motivo", Cecília Meireles.


Ela é ela, maior,
eu sou eu.

E agora é
descabido
não ser alegre nem triste.

Sou poeta
só onde me dói.
tem um carnaval dentro de mim
querendo pular rasgar fuder

tem carnaval saindo pelas orelhas
olhos e goelas acima
querendo ver

tem carnaval doido pra estourar.

e as paredes guardadas são pequenas,
estúpidas,
sovinas,
e não sabem dançar o frevo.

08/02/2010

inversão

minha enorme vontade de morrer:
minha enorme vontade de viver.

assim,
um "mal secreto"
e um bem incompleto,

já existo.
ponto.

07/02/2010

Memória

Parece que estou morta, só que viva.
Parece que não minto
e meus cílios estão colados.
Minha sonolência parece minha boca fechada.

O desgosto sob a língua
e nunca mais vou ver ninguém.

Parece uma lembrança que não vem
mas não se desagarra de mim.

Não vivo porque não vivo o que acontece lá embaixo na rua.

Não vivo agora.

Eu nunca vivo hoje.

05/02/2010

Cada miligrama que penso é um tempo parado,

espaço de um
peso
morto.

Sem capim, sem palha
ou selvageria.

Sem baderna, caos,
alegria.

Morto,
gelado,
o desejo é demora.

Porém
esse frio me refresca:

O tempo que pára completo
refloresce
dos riscos outros de fora.
minha enorme vontade de viver:
minha enorme vontade de morrer.

como se desse jeito,
mal já feito,

eu me bastasse.