quis te explicar tudo:
meu "não"
era um não ter a mim.
assim,
com qual corpo
eu ia querer você?
madrugadas insones
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Deixei a fatia
Mais doce da vida
Na mesa dos homens
De vida vazia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Verti minha vida
Nos cantos, na pia
Na casa dos homens
De vida vadia
Mas, vida, ali
Quem sabe, eu fui feliz
Luz, quero luz,
Sei que além das cortinas
São palcos azuis
E infinitas cortinas
Com palcos atrás
Arranca, vida
Estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa,
Pulsa, pulsa mais
Mais, quero mais
Nem que todos os barcos
Recolham ao cais
Que os faróis da costeira
Me lancem sinais
Arranca, vida
Estufa, vela
Me leva, leva longe
Longe, leva mais
Vida, minha vida
Olha o que é que eu fiz
Toquei na ferida
Nos nervos, nos fios
Nos olhos dos homens
De olhos sombrios
Mas, vida, ali
Eu sei que fui feliz
http://www.youtube.com/watch?v=BoEY6TXcgR4
Eu poderia escrever pela vida inteira,
preencher com palavra
todos os espaços
vazios.
Dobras,
nervuras,
interstícios,
ligamentos.
Mas aí faltaria melodia.
E então, música:
movimento, dois acordes,
um compasso diário.
Faltaria amor
...e eu seguiria com o cavalheiro,
lhe concedendo a honra de dançar uma valsa.
Rodopiaria pelo salão,
num vestido imenso
brega, azul.
E aí me faltaria a palavra.
passos largos
a melodia é meu corpo todo - curvas e culotes no espaço.
e os tijolos do chão são a base quadrada 4 por 4
dessa harmonia esquisita.
todos os meus órgãos estão brancos
e talvez vazios
teu amor faria quadros lindos
na minha tela lisa.
Depois de dizer que eu te amo,
olhei meu rosto no espelho e, pela primeira vez depois de muitos anos,
me reconheci.
Óculos escuros
Pra me fechar um pouco.
Suturar esse tosco coração
primitivo e torto.
Errado.
O sol na cara é luz demais.
Meu peito é fraco e tonto.
Zonzo. Tanta beleza não cabe no que quero.
O que quero é pouco, fraco, parco.
Preciso fechar meus olhos pra não querer
- tão aberta -
pra não querer tanto
coisas tão rasas.
A tristeza é lenta,
O prazer é ágil.
(claro que nem toda a rapidez é feliz).
O prazer é do corpo, é sede que move,
é a sede e a satisfação juntas.
A dor caminha.
Mas aceita - e quase goza um gozo sofrido -
quando pára
e se debruça sobre uma folha de papel.
Folha leve,
tempo lento.
Tudo escorre,
se esparrama.
A dor escoa
no ritmo que quiser.
(batidas na cadência de um jazz
e baquetas raspam na caixa,
caem junto com o compasso)
Já a alegria,
explode.
E não me deixa continuar aqui sentada.
como seria possível?
como?
só me pergunto isso.
o meu desejo não cala,
a doença é a vida no corpo que não cala.
que vira bicho.
como?
mas como, como???
mas não sei.
mas não sei mesmo.
mas, sozinha, não sei.
e eu sei que.
tenho ate medo de dizer.
e.
agora, como?
já matei tudo o que me fazia bem, então quero morrer.
isso não é coisa que se poste, que se bote, coloque, deixe verem.
isso não é.
isso sou eu exposta, tão rasa, tão pouca.
tão só o que sinto.
tão só.
é pouco.
é pó.
eu vivo.
mas só da pele pra fora.
eu não tenho dento de mim.
eu não sei como ir.
Agora
escorre vento pela testa
beija a mão.
Agora
beijo antes
o homem de quem me despedi,
beijo a boca com que me despi.
Escorrega o vento
agora.
Como sal,
lambo a nuvem - mas só a olho e nada mais.
E subo muito rápido
e beijo inteiro
engulo
parte por vez,
mais tarde,
todo esse ar.
manhã que não estou lá.
amo um amor
que veio comigo e chegou até alguém
aqui.
amo um amor de montanhas, de rios, de espera. de silêncio.
que nesta cidade não há.
que está em mim
guardado
está parado em mim.
a neblina, a extensão, montanhas enormes
e a saudade
são o amor que eu amo.