23/11/2008

Vento - quase chuva
o prazer.
Vivo
quase
lembrança
certa
abstrato,
carrapato
grudado entranhado mas
no ar
dentro das tripas desfigura
intátil.

quer baixar beber na pele entre os pêlos
de um cão

acha sempre assim vai ter
felicidade
mas
desse jeito
não.

02/11/2008

fotos na praia do Bonet

para ver, clique:
http://anakehl.multiply.com/photos/album/39

felicidade gratuita

Amor pela vida, pelo mundo bonito. Alegria, que nem sei bem o que fazer com ela. Talvez a leveza não seja interessante pra se escrever como é a melancolia. Não, eu é que não tô sabendo. Recorro a quem sabe...

"Barato Total

Quando a gente tá contente
tanto faz o quente
tanto faz o frio
tanto faz
que eu me esqueça do meu compromisso
com isso e aquilo que aconteceu há dez minutos atrás

Dez minutos atrás de uma idéia
já dão pra uma teia de aranha crescer
e prender sua vida na cadeia do pensamento
que de um momento pro outro começa a doer

Quando a gente está contente
gente é gente, gato é gato
barata pode ser um barato total
tudo o que você disser deve fazer bem
nada que você comer deve fazer mal

Quando a gente está contente
nem pensar que está contente
nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer
a gente quer
a gente quer a gente quer é viver!"
(Gil)


"Não sei dançar

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...

Esta foi açafata...

— Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!

A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?...
Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!"

(Bandeira. Petrópolis, 1925)