02/11/2008

felicidade gratuita

Amor pela vida, pelo mundo bonito. Alegria, que nem sei bem o que fazer com ela. Talvez a leveza não seja interessante pra se escrever como é a melancolia. Não, eu é que não tô sabendo. Recorro a quem sabe...

"Barato Total

Quando a gente tá contente
tanto faz o quente
tanto faz o frio
tanto faz
que eu me esqueça do meu compromisso
com isso e aquilo que aconteceu há dez minutos atrás

Dez minutos atrás de uma idéia
já dão pra uma teia de aranha crescer
e prender sua vida na cadeia do pensamento
que de um momento pro outro começa a doer

Quando a gente está contente
gente é gente, gato é gato
barata pode ser um barato total
tudo o que você disser deve fazer bem
nada que você comer deve fazer mal

Quando a gente está contente
nem pensar que está contente
nem pensar que está contente a gente quer
Nem pensar a gente quer
a gente quer
a gente quer a gente quer é viver!"
(Gil)


"Não sei dançar

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...

Esta foi açafata...

— Não, foi arrumadeira.
E está dançando com o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!

A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.
No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?...
Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!"

(Bandeira. Petrópolis, 1925)

2 comentários:

sofia botelho disse...

Isso da tristeza nos impulsinoar mais para a arte, para a escrita, para a música? Sem dúvida que sim!! O fazer arte é uma busca eterna por preencher alguns buracos de alma. Eu acredito. O confortável, o feliz, o equilíbrio não nos impulsiona para a busca, para entender, para expressar. Vivem dizendo por aí que o equilíbrio é o lugar que é preciso alcançar. Talvez seja uma maneira de nos deixar sempre na busca, já que é ela que nos faz viver todos os dias. Quando encontra-se esse tal equilíbrio, o que é que vem depois?? Ou é um pensamento muito melancólico o meu, Gords?

ana disse...

mas a alegria tbm não é lá mto equilibrada, né? então acho q impulsiona sim

mas...
a gente quer a gente quer é viver!!
essa é a vontade.. e não de parar com uma caneta.
acho que quem consegue escrever a felicidade é mto genial ou mto generoso.

bjão, górrr!