22/01/2010

Interrompo.
Corto.

Abrupto

Fujo da chuva,
fujo para a chuva que me cai,
que caio,
caio em mim.

Corro na chuva.

Fujo
do que
atravanca.

Corro,
caio na zebra, na boca do lobo.

Escorrego pelo limo
mais baixo
do que eu já me vi.

E subo as escadas muito em pé
para parar de romper
para cerzir, coser,
refazer

Corro, fujo
saio do mundo
e aniquilo o rumo.

Rasgo fundo,

E aí sei continuar.
Tarde que não se acaba.
Passo, tardo, penso.

Clichês sinceros
numa tarde de quarta
muito madrugada de segunda-feira.

Insônia da noite
é sonolência do dia..

Vivo razo,
morro fácil.

Boiando
na banheira da casa
dentro de um verão carioca.

19/01/2010

Pego a minha viola, canto, e nada sai.
Não é viola, ô estúpida, é uma caneta.
Anoto.
Finjo ser triste.
Anoto.
Perco a ideia.
Entristeço.
Penso que não vale mais a pena.
Penso que não sinto mais nada.
Não vivo.
E aí,
e a vontade?
Isso que imagino,
isso é desejo ou é hipótese?
Tanto faz,
foda-se,
Vida é carga que se recarrega.

13/01/2010

Pílula pro coração

Pontinha de morro
montanha
ou muro

Neve
neblina
ou jato de carro-pipa

(quem sabe até
fumaça de caminhão)

Qualquer paisagem
bucólica, urbanólica,
dentro desse lixo abafado de uma gente zumbi que buzina, desesperada sofre, grita, cria: derrames, convulsões, enfartos cardíacos.

11/01/2010

Carlos Drumond de Andrade

para o Fabricio.

"O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar."


09/01/2010

Noite que eu não durmo

Formigamento e enervadura,
rompição de laçarote.
Rompimento dos nervos axiais. Axiomáticos.

Ligadura do que não sai do jeito que eu quero porque não é do jeito que eu quero.
O que não É
e não pode ser.

Enervamento dos calos das unhas do meu pezão. Meus cabelos. Irrigação.

E esse homem que eu amo que eu amo que eu amo.
Eu espero.
Eu espero você chegar em casa e no meu coração tem formiga.
Mas eu espero.
Isso é amor.
Isso é amor e eu tenho tanto medo. Tanto medo de destruir.
Me sinto capaz.
Destruir.
Só me sinto capaz de destruir.
E no entanto
por ora
apenas sinto que no meu peito na minha caixa toráxica tem formiga.
......
Eu espero.
Eu quebro meus ossos nessa espera,
trituro.
Até sangrar pelo dedinho e sentir a fome funda do oco do estômago ao topo da cabeça.